segunda-feira, 27 de agosto de 2007

Aquecimento Global x Extinção das Espécies

O aquecimento global e a extinção das espécies
No final de 2004, a Rússia, finalmente, ratificou o protocolo de Kyoto e a 10ª Conferência das Partes da Convenção do Clima da ONU, a COP-10, discutiu medidas para combater o aquecimento global.
Quando se fala em aquecimento global, pensamos imediatamente nas conseqüências das mudanças climáticas, como secas, inundações e tempestades. No entanto, não devemos nos esquecer de outra conseqüência muito séria: a extinção de espécies.
O efeito estufa
O gás carbônico - e, em menor grau, o vapor de água, o gás metano e alguns outros gases -, forma uma barreira na atmosfera que deixa passar a luz do Sol e retém parte do calor irradiado pela superfície terrestre. É o efeito estufa, que mantém a temperatura média da Terra em torno de 15 °C.
Desde a Revolução Industrial, a concentração de gás carbônico na atmosfera vem aumentando, devido principalmente à queima de combustíveis fósseis. Os mais de 1.500 cientistas membros do Painel Intergovernamental sobre Mudança do Clima,um órgão vinculado à ONU, acreditam que há fortes evidências de que este aumento vem provocando a elevação da temperatura média do planeta e vários tipos de alterações climáticas. Esse fenômeno é chamado de aquecimento global.
O aumento da temperatura pode provocar a elevação do nível dos mares devido à expansão térmica da água e ao degelo de parte das calotas polares. Com isso, grandes áreas do litoral podem ser inundadas. A água originada do degelo pode alterar a formação das correntes marítimas, como a corrente do Golfo, que conduz calor do Caribe para a Europa Ocidental,modificando o regime de ventos e chuvas e o clima de várias regiões. Com isso, a agricultura ficaria prejudicada e aumentaria a proliferação de insetos transmissores de doenças.
A perda da biodiversidade
Um estudo recente - coordenado pelo biólogo britânico Chris Thomas e que contou com a participação de vários cientistas, inclusive a brasileira Marinez Ferreira de Siqueira, do Centro de Referência em Informação Ambiental, em Campinas, Estado de São Paulo - fez uma estimativa acerca da percentagem de espécies que podem entrar em extinção em função do aumento do aquecimento global.
Os cientistas analisaram o efeito do aquecimento em 1.103 espécies de plantas e animais do Brasil, África do Sul, Europa, Austrália, México e Costa Rica, cobrindo cerca de 20% da superfície terrestre (os oceanos não foram analisados). Vários cenários foram traçados em função dos possíveis aumentos de temperatura e da capacidade de dispersão das espécies.
Com elevação acima de 2 ºC, até 2050, cerca de 35%, em média, do total de espécies estaria a caminho da extinção. Esse índice varia, em função da estimativa de dispersão, entre 21%, no caso de incapacidade de dispersão, e 52%, com capacidade máxima de dispersão. Com elevação entre 1,8 ºC e 2 ºC a porcentagem média seria de 24%. Com um aumento entre 0,8 ºC a 1,7 ºC, o índice médio de extinção seria de 18%.
As estimativas para o número de espécies do planeta variam entre 10 milhões e 100 milhões. Uma extinção média de 25% das espécies, em 50 anos, representa um índice à altura dos episódios de extinções em massa que ocorreram ao longo da história da vida em nosso planeta. Alguns cálculos indicam que a taxa de extinção é de cerca de 200 vezes maior que o normal. A diferença em relação aos outros impactos é que a principal causa agora é a atividade humana.
As razões para se preservar a biodiversidade são bem conhecidas: com a extinção das espécies, perdemos muitas substâncias químicas que poderiam ser potencialmente usadas na fabricação de medicamentos e de outros produtos importantes. Além disso, as espécies selvagens servem como um "banco genético" para a origem de novas espécies mais produtivas ou mais resistentes. Finalmente, toda espécie faz parte de uma teia alimentar e sua extinção pode provocar desequilíbrios ecológicos.
As perspectivas não parecem nada boas, uma vez que muitos cientistas estimam que a temperatura média do planeta aumente em 4,5 ºC nas próximas décadas e que o nível do mar suba entre 70 e 80 centímetros ao ano. Um estudo recente feito pelo Pentágono (Colapso Climático, o Pesadelo do Pentágono) analisa inclusive a possibilidade de estarmos mais perto do que se pensa de grandes mudanças climáticas.
Medidas urgentes
Os autores do estudo concluem que esse é mais um argumento a favor da implementação de tecnologias que contribuam para diminuir a emissão de gás carbônico ou o seqüestro desse gás da atmosfera.
A maioria dos países apóia a redução da emissão de gás carbônico em 5,2%, com relação aos níveis de 1990, até 2012. Esse acordo, chamado Protocolo de Kyoto, precisava ser referendado por um total de países responsáveis por pelo menos 55% das emissões. Os Estados Unidos, que emitem 36% do gás carbônico, não estão dispostos a assinar o tratado. No entanto, com a ratificação recente da Rússia, que responde por 17% das emissões, o tratado já pode ser implementado.
Com a assinatura do protocolo, entra em cena o "Mecanismo de Desenvolvimento Limpo", que permite que os países ricos e mais poluidores financiem projetos de reflorestamento, de preservação das florestas e de substituição de combustíveis nos países pobres. Em troca, eles receberiam créditos de carbono, que contariam para atingir suas metas internas de redução da emissão de gás carbônico. O Brasil, onde as queimadas são responsáveis por 25% das emissões, poderia ser beneficiado ao reduzir as taxas de desmatamento.
(Fevereiro de 2005)
Fernando Gewandsznajder(Licenciado em Biologia, doutor em Educação, professor de Biologia no Colégio Pedro II-RJ e autor de livros de Ciências e Biologia pela Ática)
Fontes:
Linhares, S. e Gewandsznajder, F. Biologia Hoje. V.3. São Paulo, Ática, 11ª ed.,2003.Thomas, C. D. et al. "Extinction risk from climate change". Nature, n° 427, 08 Jan 2004, p. 145-148.Wilson, E. O. O futuro da vida: um estudo da biosfera para a proteção de todas as espécies, inclusive a humana. Rio de Janeiro, Campus, 2002.

Na Internet (em português)
http://www.carbonobrasil.com/efeito_estufa.phphttp://www.comciencia.br/reportagens/clima/creditos.htm

Um comentário:

Anônimo disse...

ler todo o blog, muito bom