terça-feira, 28 de agosto de 2007

Água, recurso renovável, mas escasso



A Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura) elegeu 2003 o Ano Internacional da Água Doce. A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) escolheu a água como tema da Campanha da Fraternidade 2004. Por que essa preocupação com a água?

Um recurso indispensável

Sem água não se vive. Por vários motivos. As reações químicas que garantem a vida são possíveis somente quando as substâncias estão dissolvidas na água. A água leva nutrientes para as células e permite que o organismo elimine substâncias tóxicas ou em excesso através da urina.
Finalmente, a água ajuda a regular a temperatura do corpo através do suor.
Mas será que falta água em nosso planeta?

A água no mundo

À primeira vista não, já que cerca de 71% da superfície da Terra é coberta por água em estado líquido. Mas 97% da água é salgada demais: não serve para beber nem para a agricultura. Como 2% estão no estado sólido (nas geleiras), resta apenas cerca de 1% de água doce.
O pior é que, tanto em termos geográficos como sociais, a água é mal distribuída: 13% da população mundial que vive na África dispõe de apenas 9% da água doce, e a China, com 22% da população mundial, de apenas 6%.
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), cada pessoa precisa de 4 litros de água por dia para manter a saúde. No entanto, apenas cerca de 35% da população mundial conta com abastecimento de água limpa e potável.
Um bilhão e duzentas mil pessoas no mundo não dispõem de água potável e, nos países mais pobres, uma entre cinco crianças morre antes dos cinco anos por causa de doenças relacionadas com o uso da água.
A agricultura consome quase 70% da reserva de água. Como a população continua a crescer, um número cada vez maior de pessoas terá problemas com o abastecimento de água, pressionando também o consumo na agricultura.
Há estimativas de que mais de 2,7 bilhões de pessoas poderão sofrer com a falta de água em 2025 - se o consumo continuar nos níveis atuais. O desmatamento das nascentes, o consumo crescente e intensivo e a poluição pioram ainda mais o quadro. E ainda há o risco de conflitos entre as nações devido à disputa pela água.

A água no Brasil

O Brasil tem cerca de 12% do total de água doce superficial (a água dos rios e lagos) do planeta. E possui também a maior reserva de água subterrânea do mundo, o Aqüífero Guarani, que passa por oito estados brasileiros e pelo Paraguai, Uruguai e Argentina.
Mas, também no Brasil, a distribuição da água não é uniforme. A Região Norte, com 7% da população, dispõe de 68% da água do país, enquanto o Nordeste, com 29% da população, tem 3%. O Sudeste, onde vivem 43% dos brasileiros, conta com 6%.
Nossas reservas de água estão cada vez mais poluídas por resíduos industriais e por esgoto doméstico sem tratamento adequado (apenas cerca de 20% do volume de esgoto lançado nos rios brasileiros passa por algum tipo de tratamento). Além disso, o desmatamento, que substitui a mata nativa pelo asfalto das cidades ou por culturas agrícolas com menor poder de retenção de água, faz com que a água das chuvas escoe muito rapidamente para os rios e deixe de abastecer os lençóis freáticos.
Para piorar a situação, 40% da água distribuída pelas redes de abastecimento escapa por vazamentos ou ligações clandestinas.
A conservação de nossas reservas de água

É fundamental que os governos invistam no saneamento e no abastecimento de água, na construção de cisternas e barragens, na proteção aos mananciais, no controle da poluição e do lixo, na educação sanitária da população, na criação de novas tecnologias e na despoluição dos rios.
Em regiões do mundo em que a água é escassa, retira-se o excesso de sal da água do mar, de modo que ela possa ser usada em casas, na agricultura ou na indústria. Mas esse processo, chamado dessalinização, ainda é caro e envolve gasto de energia. E no caso do uso de combustíveis fósseis, leva também à poluição do ar. Mesmo assim, há usinas de dessalinização em algumas regiões com escassez de água, como no Oriente Médio. O custo do transporte de icebergs pelo oceano também é muito alto.
Já que a água é escassa, é preciso poupá-la, diminuindo o consumo ou tornando-o mais eficiente. Na agricultura, por exemplo, é preciso usar técnicas mais eficientes, como a irrigação por gotejamento.
Em relação ao uso doméstico, é preciso investir em tecnologias que reutilizam a água em residência. No Japão, a água que sai pelo ralo é reaproveitada para abastecer os vasos sanitários e só depois vira esgoto.
Para poupar água, é preciso que a população aprenda a usar esse recurso de forma racional, reduzindo o desperdício. Não deixar, por exemplo, a torneira aberta sem necessidade, ficar no banho somente o tempo necessário e fechar a água quando estiver se ensaboando. Uma pessoa que demora 10 minutos para escovar os dentes e fazer a barba, deixando a torneira aberta, gasta 24 litros de água por dia. Se a torneira for aberta apenas quando necessário, gastará, em média, apenas 2 litros.
É preciso consertar logo os vazamentos, manter a válvula da descarga regulada e evitar o uso da mangueira na limpeza de calçadas, entre outras medidas.
O Dia Mundial da Água é 22 de março. Mas todo dia é dia de economizar esse líquido vital.
(Abril de 2004)

Fontes:
Silveira, I. A geografia da gente: água, meio ambiente e paisagem. São Paulo, Ática, 2003.Tundisi, J. G. Água no século XXI: enfrentando a escassez. São Paulo, RiMa/IIE, 2003.Villiers, M. de. Água. Rio de Janeiro, Ediouro, 2002.

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