segunda-feira, 27 de agosto de 2007

RECICLAGEM

Fungo e bactéria aceleram decomposição de plástico

Publicado em 26.08.2007 – J.C. on line

Fungos e bactérias a uma temperatura de 50ºC aceleraram o processo de decomposição das garrafas PET, que na natureza demoram mais de cem anos para desaparecer. Apesar de serem 100% recicláveis, 53% das embalagens utilizadas no Brasil são jogadas no lixo sem nenhum reaproveitamento. Por isso, pesquisadores da Universidade Católica de Pernambuco (Unicap) desenvolveram técnica com a qual, em 60 dias, o peso do plástico é reduzido em 78%. Testes de toxicidade mostraram que produtos gerados a partir do processo não agridem o meio ambiente.
O fungo, chamado pelos cientistas de Phanerochaete chrysosporium, foi testado para duas temperaturas e apresentou melhor desempenho a 50ºC. A massa inicial da garrafa, que era de 0,1843 grama, foi reduzida para 0,1441 grama. Com a bactéria, conhecida como Bacillus subtilis, os cientistas conseguiram reduzir 72% do peso da garrafa, quando submetida à mesma temperatura. O grupo controle, que não foi exposto à ação do fungo e da bactéria em análise, apresentou uma diminuição de apenas 0,05%.
Os microrganismos foram retirados do solo de uma área contaminada por petróleo do Porto do Recife, na região central da cidade. Os pesquisadores utilizaram cinco garrafas PET. Cada uma foi submetida à irradiação ultravioleta (durante seis horas e outro experimento por trinta e seis horas) e a temperaturas de 35ºC e 50ºC durante setenta e duas horas. A quinta garrafa serviu como grupo controle. “Esses processos facilitaram a colonização de fungos e bactérias e a degradação da estrutura do plástico. Os melhores resultados foram observados a uma temperatura de 50ºC”, explica a professora Galba Takaki, orientadora do estudo, dissertação de mestrado da bióloga Alicia Jara em desenvolvimento de processos ambientais.
“Bactérias e fungos conseguem sintetizar enzimas, principalmente, a esterase e polifenoxidase. Elas degradam a estrutura química da garrafa para servir de alimento. Os microrganismos colonizam a superfície do plástico e formam um biofilme com milhares de indivíduos. É o que chamamos de biodegradação”, explica Alicia Jara.
Os cientistas utilizaram a parte do meio da PET, sem o rótulo. Ela foi cortada em 20 pedaços de 400 milímetros quadrados e desinfectada com etanol e álcool iodado. Cada recipiente de 250 milímetros (ml) recebeu um pedaço do plástico, microrganismos e 100 ml de caldo nutritivo para alimentar fungos e bactérias de 30 a 60 dias.
O processo de biodegradação e o teste de toxicidade foram realizados, durante três meses, pela bióloga na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) em 2006. “Para o microcrustáceo Artemia salina (um bioindicador), os subprodutos do processo de degradação apresentaram baixa toxicidade, o que não prejudica o meio ambiente. O próximo passo é levar a experiência para o campo para calcular o tempo de decomposição”, explica Alicia Jara.
As garrafas PET chegaram ao mercado brasileiro em 1988. Em 2005, foram consumidas 374 mil toneladas de garrafas no País, de acordo com a Associação Brasileira da Indústria do PET (Abipet). Apenas 174 mil toneladas delas foram recicladas no mesmo ano, segundo o Compromisso Empresarial para Reciclagem (Cempre), o que representa um percentual de 47%.
No último dia 13, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) colocou em consulta pública discussão sobre a reciclagem do PET. Sugestões poderão ser encaminhadas, até o 13 de outubro, para o endereço SEPN 511, Bloco A, 2º andar, Edifício Bittar II, Asa Norte, Brasília-DF, CEP 70750.541, pelo fax (61) 3448-6274 ou pelo e-mail: gacta@anvisa.gov.br.

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